Igreja Católica Ortodoxa Hispânica
São Bernardo de Claraval +
Nascido em Castelo de Fontaine-lès-Dijon, Borgonha, aos 04 de Dezembro de 1090. Os pais de Bernardo eram Tescelin, Senhor de Fontaines, e Aleth de Montbard, ambos oriundos da mais alta nobreza da Borgonha. Ele foi o terceiro de sete filhos, seis dos quais homens. Aos nove anos, foi enviado para uma escola em Châtillon-sur-Seine dirigida pelos clérigos seculares de Saint-Vorles. Em sua educação, demonstrou grande apreciação pela literatura - principalmente para poder estudar a Bíblia - e dedicou-se por algum tempo à poesia. Bernardo era especialmente devoto da Virgem Maria e escreveu depois muitas obras sobre a "Rainha do Céu", como ele a chamava. Suas conquistas académicas valeram-lhe grande admiração de seus professores.
Bernardo tinha apenas 19 anos quando sua mãe morreu, um evento que o fez pensar em se retirar do mundo para viver uma vida de solidão e oração. Em 1098, o Abade Roberto de Molesme fundou a Abadia de Cister, perto de Dijon, com o objectivo de restaurar à "Regra de São Bento" o seu rigor original. Depois de voltar para a sua terra natal, o Abade Roberto deixou a sua nova abadia aos cuidados do Abade Alberico, que morreu em 1109. Em 1113, o Abade Estêvão Harding havia acabado de sucedê-lo como abade quando Bernardo e trinta outros jovens da nobreza foram admitidos na Ordem de Cister.
A pequena comunidade de beneditinos reformados de Cîteaux, que teria uma profunda influência sobre o monaquismo ocidental, cresceu rapidamente. Três anos depois, Bernardo foi enviado à frente de um grupo de doze monges para fundar uma nova casa no Vallée d'Absinthe, na Diocese de Langres, uma região que ele baptizou de "Claire Vallée" (que evoluiu depois para "Clairvaux" e tornou-se "Claraval" em português).
A nova abadia, fundada em 25 de Junho de 1115, ligou o seu nome, Abadia de Claraval, ao de Bernardo daí em diante. Durante uma ausência do Bispo de Langres, Bernardo foi abençoado como abade por Sua Exª Rev.ma Mgr. Guilherme de Champeaux, Bispo de Châlons-sur-Marne e, a partir daí, uma forte amizade nasceu entre os dois. Mgr. Guilherme era também professor de teologia em Notre-Dame de Paris e fora o fundador da Abadia de São Vítor na mesma cidade.
O Abade Estêvão Harding acolheu com alegria este grupo e soube discernir a riqueza da personalidade de Bernardo e nele confiar, ainda que, sob muitos aspectos, descobriu-se entre eles uma notável diferença de temperamento. Numa primeira abordagem desta diferença, podemos notar que enquanto para Estêvão a estética está mais sobre a ordem do visível, das artes plásticas (como demonstram os manuscritos com iluminuras que datam do seu abaciado), para Bernardo a estética é mais aquela do ouvido e da voz, aquela da música, da escuta, essencialmente escuta da Palavra de Deus, a escuta do Verbo de Deus que se dirige ao monge, ao qual não é permitido distrair-se. Bernardo constrói sobre os ideais e sobre os fundamentos essenciais dados por Estêvão: fidelidade à Regra, simplicidade, pobreza e, sobretudo, a caridade. Seguindo o seu exemplo, de modo especial no que diz respeito à pobreza, os cistercienses estabeleceram-se em "desertos", onde realizam um duro trabalho manual que é suficiente para o seu sustento e permite também vir ao encontro dos necessitados. Conhecem um despojamento que os aproxima daquele de Jesus Cristo e dos apóstolos. Rejeitam o sistema social da época, renunciam aos dízimos e feudos que vêm daqueles que têm autoridade feudal e, do mesmo modo, não aceitam os "benefícios" que poderiam ser propostos pelos homens da Igreja. Com a ideia da igualdade, no mosteiro, não se faz mais caso da origem social dos monges; todos vivem do mesmo modo. No que diz respeito ao abade, inclusive ao abade de Cîteaux, encontram-se todos no Capítulo Geral no mesmo nível. A simplicidade de vida aparece nos hábitos, nas construções realizadas com linhas geométricas "limpas", estilo despojado, sem decorações. A espiritualidade não está dirigida a uma elite, mas a seres humanos de carne, permeados profundamente do desejo de converter-se. Este quadro estaria incompleto se não se fizesse menção do culto à Virgem das Dores e da Ternura, pronta para socorrer as mais diversas angústias, como para suscitar o respeito da mulher, numa sociedade bastante violenta. O prestígio pessoal de Bernardo, o seu poder de convencer fazem crescer continuamente a sua influência na Ordem, na Igreja e no mundo. Esta influência é exercitada em duas linhas principais: antes de tudo, a consolidação da Ordem Cisterciense e o reconhecimento da excelência da sua observância; e depois, a Reforma da Igreja.
Os primeiros anos da nova abadia foram muito difíceis. O regime era tão austero que Bernardo ficou doente e, somente depois da intervenção de seu amigo Mgr. Guilherme e por imposição do Capítulo Geral da Ordem que o regime seria relaxado. Apesar disso, o mosteiro progrediu rapidamente. Discípulos chegavam de todas as partes para servirem sob a direcção espiritual de Bernardo, incluindo o seu pai e todos os seus irmãos. Humbelina, sua irmã, permaneceu no mundo secular, mas, com o consentimento do marido, ela também se tornou freira no convento beneditino de Jully-les-Nonnains. Futuramente, Geraldo de Claraval (Gerard de Clairvaux), irmão mais velho de Bernardo, tornar-se-ia um obedientiarius em Cîteaux. Contudo, a abadia logo ficou pequena demais e novos grupos de monges foram enviados para fundar novas casas.
Em 1118, funda a sua primeira casa-filha e durante trinta anos o ritmo das fundações é de dois mosteiros por ano, através de toda cristandade ocidental, com excepção da Europa Central.
O ano de 1130 é uma data chave para a vida de Bernardo: até agora tinha se consagrado somente à vida da sua comunidade e da sua Ordem, agora entra de modo activo e decisivo na vida da Igreja, ajudando a resolver situações de crise que deriva da dúplice eleição de S.S. Inocêncio II e de S.S. Anacleto II, situação que provoca um cisma que durou oito anos e que foi ocasião das primeiras viagens de Bernardo à Itália. Em 1140 intervém contra os erros de Abelardo. Em 1145 percorre o Languedoc para pôr fim aos erros hereges. Em 1147, S.S. Eugénio III, que tinha sido abade cisterciense de Tre Fontane (Roma), dá-lhe a missão de pregar a II Cruzada, que foi um fracasso, do qual ele se considerou responsável. Em 1150, sob a insistência de Suger, abade de S. Denis, tenta, em vão, convencer S.S. Eugénio III de retomar a Cruzada.
Na primavera de 1153 inicia uma última viagem na Lorena, retorna a Clairvaux, onde recebe a notícia da morte de S.S. Eugénio III e morre também ele aos 20 de Agosto de 1153, aos 63 anos de idade.
Foi enterrado na Abadia de Claraval, mas, depois que ela foi dissolvida em 1792 durante a Revolução Francesa, seus restos mortais foram levados para a Catedral de Troyes.
Em 1163 o seu culto é introduzido em Clairvaux e em 1174, S.S. Alexandre III canoniza-o. Este elenco de datas é somente o aspecto externo da vida de Bernardo, pois no mesmo período produz uma actividade literária considerável - é o maior escritor do seu tempo - apesar do seu estado de saúde sempre precário em virtude das austeridades que se impôs. É impossível, em poucas linhas, focalizar a obra de S. Bernardo e a sua originalidade. Digamos somente que Bernardo, como todos os outros autores cistercienses do seu tempo, cantou o amor, o amor de Deus pelo homem e o amor do homem por Deus. Um amor que é fonte de verdadeiro conhecimento - é sobre este ponto que ele diverge de Abelardo e da teologia escolástica nascente - um amor nupcial entre Deus e aquele, aquela que sabe estar na escuta dele. E é esta mensagem que falou ao coração de tantos homens e mulheres do seu século e povoou numerosos mosteiros.
À sua morte, em 1153, a Ordem de Cîteaux conta com 345 mosteiros, dos quais 167 são filiações de Clairvaux, fundações ou mosteiros que pedem para serem incorporados à Ordem.
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