Igreja Católica Ortodoxa Hispânica

 

São Bernardo

 

Nascido em 1090, já em 1110 teria tomado em consideração o projecto de entrar em Cîteaux, projecto que realizou em 1113, chegando no mosteiro com trinta companheiros. O Abade Estêvão Harding acolheu com alegria este grupo e soube discernir a riqueza da personalidade de Bernardo e nele confiar, ainda que, sob muitos aspectos, descobriu-se entre eles uma notável diferença de temperamento. Numa primeira abordagem desta diferença, podemos notar que enquanto para Estêvão a estética está mais sobre a ordem do visível, das artes plásticas (como demonstram os manuscritos com iluminuras que datam do seu abaciado), para Bernardo a estética é mais aquela do ouvido e da voz, aquela da música, da escuta, essencialmente escuta da Palavra de Deus, a escuta do Verbo de Deus que se dirige ao monge, ao qual não é permitido distrair-se. Bernardo constrói sobre os ideais e sobre os fundamentos essenciais dados por Estêvão: fidelidade à Regra, simplicidade, pobreza e, sobretudo, a caridade. Seguindo o seu exemplo, de modo especial no que diz respeito à pobreza, os cistercienses estabeleceram-se em "desertos", onde realizam um duro trabalho manual que é suficiente para o seu sustento e permite também vir ao encontro dos necessitados. Conhecem um despojamento que os aproxima daquele de Jesus Cristo e dos apóstolos. Rejeitam o sistema social da época, renunciam aos dízimos e feudos que vêm daqueles que têm autoridade feudal e, do mesmo modo, não aceitam os "benefícios" que poderiam ser propostos pelos homens da Igreja. Com a ideia da igualdade, no mosteiro, não se faz mais caso da origem social dos monges; todos vivem do mesmo modo. No que diz respeito ao abade, inclusive ao abade de Cîteaux, encontram-se todos no Capítulo Geral no mesmo nível. A simplicidade de vida aparece nos hábitos, nas construções realizadas com linhas geométricas "limpas", estilo despojado, sem decorações. A espiritualidade não está dirigida a uma elite, mas a seres humanos de carne, permeados profundamente do desejo de converter-se. Este quadro estaria incompleto se não se fizesse menção do culto à Virgem das Dores e da Ternura, pronta para socorrer as mais diversas angústias, como para suscitar o respeito da mulher, numa sociedade bastante violenta. O prestígio pessoal de Bernardo, o seu poder de convencer fazem crescer continuamente a sua influência na Ordem, na Igreja e no mundo. Esta influência é exercitada em duas linhas principais: antes de tudo, a consolidação da Ordem Cisterciense e o reconhecimento da excelência da sua observância; e depois, a Reforma da Igreja. Em 1115 Bernardo foi enviado com um grupo de monges para fundar Clairvaux e aí passa toda a sua vida como abade, renunciando a qualquer outra dignidade eclesial. Em 1118 Clairvaux funda a sua primeira casa-filha e durante trinta anos o ritmo das fundações é de dois mosteiros por ano, através de toda cristandade ocidental, com excepção da Europa Central. À sua morte, em 1153, a Ordem de Cîteaux conta com 345 mosteiros, dos quais 167 são filiações de Clairvaux, fundações ou mosteiros que pedem para serem incorporados à Ordem. O ano de 1130 é uma data chave para a vida de Bernardo: até agora tinha se consagrado somente à vida da sua comunidade e da sua Ordem, agora entra de modo activo e decisivo na vida da Igreja, ajudando a resolver situações de crise que deriva da dúplice eleição de Inocêncio II e de Anacleto II, situação que provoca um cisma que durou oito anos e que foi ocasião das primeiras viagens de Bernardo à Itália. Em 1140 intervém contra os erros de Abelardo. Em 1145 percorre o Languedoc para pôr fim aos erros hereges. Em 1147, Eugénio III, que tinha sido abade cisterciense de Tre Fontane (Roma), dá-lhe a missão de pregar a II Cruzada, que foi um fracasso, do qual ele se considerou responsável. Em 1150, sob a insistência de Suger, abade de S. Denis, tenta, em vão, convencer Eugénio III de retomar a Cruzada. Na primavera de 1153 inicia uma última viagem na Lorena, retorna a Clairvaux, onde recebe a notícia da morte de Eugénio III e morre também ele aos 20 de Agosto do mesmo ano. Em 1163 o seu culto é introduzido em Clairvaux e em 1174, Alexandre III canoniza-o. Este elenco de datas é somente o aspecto externo da vida de Bernardo, pois no mesmo período produz uma actividade literária considerável - é o maior escritor do seu tempo - apesar do seu estado de saúde sempre precário em virtude das austeridades que se impôs. É impossível, em poucas linhas, focalizar a obra de S. Bernardo e a sua originalidade. Digamos somente que Bernardo, como todos os outros autores cistercienses do seu tempo, cantou o amor, o amor de Deus pelo homem e o amor do homem por Deus. Um amor que é fonte de verdadeiro conhecimento - é sobre este ponto que ele diverge de Abelardo e da teologia escolástica nascente - um amor nupcial entre Deus e aquele, aquela que sabe estar na escuta dele. E é esta mensagem que falou ao coração de tantos homens e mulheres do seu século e povoou numerosos mosteiros.


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