Igreja Católica Ortodoxa Hispânica


Sua Excelência Reverendíssima
Mgr. Óscar Arnulfo Romero +


Sua Exª Rev.ma Mgr. Oscar Arnulfo Romero, nasce ao 15 de Agosto de 1917, em Ciudad Barrios, El Salvador, numa família numerosa e pobre. Quando ainda criança, a sua saúde inspira cuidados. Gosta de tocar flauta e brinca de sacerdote. Em 1931 ingressa no Seminário Menor de São Miguel, onde ficou conhecido como "O menino da flauta", por sua habilidade em utilizar uma flauta de bambu que herdou de seu pai. Em 1937, ingressou no Seminário Maior San José de la Montaña, em San Salvador, e sete meses depois, viajou para estudar teologia em Roma, onde presenciou as calamidades da Segunda Guerra Mundial.

Em 04 de Abril de 1942, recebe a Sagrada Ordenação Presbiteral.

Em 1943 retorna a El Salvador. Durante 26 anos, na função de pároco, revela-se um sacerdote generoso: visita os doentes, lecciona religião nas escolas, é capelão prisional; os miseráveis fazem fila à porta de sua residência aguardando ajuda. Ocasião suficiente para o vigário conhecer a miséria profunda que assola seu pequeno país. A miséria é provocada pela estrutura social onde 02% da população é proprietária de 60% das terras férteis. À maioria dos camponeses falta trabalho, alimento e água potável. É grande a mortalidade infantil. Correm os anos 70 e a maioria dos Países Sul-Americanos vivem duras experiências de ditaduras militares conquistando o Estado e confirmando as elites em seus privilégios. Sacrificam-se com exílio e sangue os ideais de justiça e direitos humanos. Também para El Salvador é um período de grandes conflitos. Os movimentos populares por mais igualdade social e pela reforma agrária são cruelmente abafados pela política e pelos capangas dos donos das terras.
Em 25 de Abril de 1970, aos 52 anos de idade, é nomeado Bispo Titular de Tambeae e Auxiliara de San Salvador, El Salvador, tendo recebido a Sagrada Ordenação Episcopal no dia 21 de Junho de 1970, das mãos de Sua Exª Rev.ma Mgr. Girolamo Prigione, Arcebispo Titular de Lauriacum, sendo Co-Consagrante: Sua Exª Rev.ma Mgr. Luis Chávez y González, Arcebispo de San Salvador, El Salvador, e Sua Exª Rev.ma Mgr. Arturo Rivera Damas, Bispo Titular de Legia.

Em 15 de Outubro de 1974, aos 57 anos de iadade, é nomeado Bispo de Santiago de María, El Salvador. Em 03 de Fevereiro de 1977, aos 59 anos de idade, é nomeado Arcebispo de San Salvador, El Salvador.
Em Março de 1977, ocorreu o assassinato de seu amigo, o Revº Pe. Rutílio Grande, junto com dois camponeses. Esse incidente transformou o Arcebispo, que passou a denunciar as injustiças sociais por meio da rádio católica Ysax e do semanário Orientación. Por isso, chegou a ser conhecido como "A voz dos sem voz".
Por ter aderido aos ideais da não violência, chegou a ser comparado ao Mahatma Gandhi e a Martin Luther King. Sua Exª Rev.ma Mgr. Óscar Romero denunciava, em suas homilias dominicais, as numerosas violações de direitos humanos em El Salvador e manifestou publicamente sua solidariedade com as vítimas da violência política, no contexto da Guerra Civil de El Salvador. Dentro da Igreja Católica Romana, defendia a "opção preferencial pelos pobres".

Em Julho deste ano, o General Carlos Humberto Romero é o novo Presidente do País e reforça a política repressora favorecendo apenas os interesses financeiros, agrícolas e exportadores, da direita reaccionária. Após dois anos (15 de Outubro de 1979), o General é deposto pelo golpe militar que leva ao poder líderes de vários partidos democráticos. Iniciam-se algumas reformas. Mas, pouco ao pouco, os sectores conservadores (o capital financeiro e os exportadores agrícolas) dominam novamente o país. Acirra-se a violência da direita que não admite perder seus privilégios. À esquerda revolucionária não agrada a solução democrática e gradual que se está iniciando. Reina o caos político, económico, institucional. De Janeiro a Março de 1980 são assassinadas 1015 pessoas. Responsáveis: as forças de segurança e as organizações da direita, contra a guerrilha e os movimentos populares de esquerda que se organizam sempre melhor. Um grupo de guerrilheiros sequestra e mata o ministro Maurício Borgonovo. Em resposta, na tarde do mesmo dia, quatro homens da União dos Guerreiros Brancos, grupo para militar de extrema direita, invade a casa paroquial e mata o sacerdote Alfonso Navarro e o jovem Luís Torres. Na homilia, por ocasião dos funerais, o arcebispo fala contra os extremismos da direita e da esquerda, ambos culpados pela morte dos pobres. Através da rádio católica faz ouvir a sua voz a 75% dos camponeses e a 50% da população das cidades. Aconselha a busca de um projecto de sociedade mais justa e humana. Critica os massacres e as repressões accionadas pela direita e pela esquerda. "A violência não é a via justa. A violência é produzida pelos que matam, pelos que incitam a matar e pelos que não fazem o possível para eliminar suas causas. Estes últimos são tão culpados quanto os que empunham as armas." Em um dossier enviado a Roma por quatro dos seis bispos de El Salvador, poucos meses antes de sua morte, Óscar Romero fora acusado de se estar a envolver com os autores da "teologia da libertação". Incitaria à revolução, alteraria a imagem de Jesus Cristo apresentando-o como um subversivo. Mgr. Rocardo Urioste, velho amigo e colaborador do arcebispo declara: "Romero, tenho certeza, não lera nenhum livro da teologia da libertação. Leu sim, a Bíblia, o Evangelho e os documentos do Magistério da Igreja. Tinha o coração para os pobres e aprendia da realidade."
Na homilia de 11 de Novembro de 1977, Sua Exª Rev.ma Mgr. Romero afirmou: "A missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua salvação". Na véspera de sua morte, fez um pronunciamento contundente a respeito da repressão em seu país: "Em nome de Deus e desse povo sofredor, cujos lamentos sobem ao céu todos os dias, peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão".
Sua Exª Rev.ma Mgr. Óscar Romero foi assassinado enquanto celebrava a Santa Missa, em 24 de Março 1980, por um atirador de elite do exército salvadorenho, treinado na Escola das Américas.

Sua morte provocou uma onda de protestos em todo o mundo e pressões internacionais por reformas em El Salvador. Em 1992, uma investigação conduzida pela ONU concluiu que o autor intelectual do assassinato foi o político de direita e ex-oficial do exército Roberto D’Aubuisson.
Um mês antes, sabendo-se ameaçado de morte, no encontro com S.S. São João Paulo II declara: "É meu dever estar com meu povo. Não posso ter medo. Será o que Deus quiser".

A conferência dos Bispos latino-americanos, em Medellin (1968) afirmava que a Igreja deve fazer uma opção preferencial pelos pobres e esta preferência pode chegar (conforme também a palavra de S.S. São Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio) a enfrentar as lutas pela libertação. Sua Exª Rev.ma Mgr. Óscar Arnulfo Romero foi fiel a esta opção da Igreja Latino-Americana em favor dos empobrecidos e explorados. Reagiu à violência e à vingança. Pagou com a vida o preço de ser discípulo do Crucificado. "Se me matarem, ressuscitarei no meio do meu povo!" profetizara num comentário ao Evangelho, convencido de que uma vida oferecida pelos outros é penhor seguro de ressurreição. Foi canonizado e elevado às honras dos Altares, em toda a nossa Jurisdição Canónica, pelo Decreto Primacial A038/GP, de 16 de Junho de 2005.


S.S. São Paulo VI com Sua Exª Rev.ma Mgr. Romero


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