Catecismo Ortodoxo

Parte II

Deus Manifestado no Mundo

18 - Santa Unção
a - A Essência do Mistério

O Mistério da Santa Unção é um acto sagrado no qual, enquanto o corpo é ungido com óleo, a graça de Deus que cura enfermidades da alma e do corpo é chamada sobre uma pessoa doente («Orthodox Catechism», pag. 65). É realizada por um grupo de Sacerdotes, idealmente sete, no entanto pode ser realizada por um número menor, até mesmo por um único Presbítero.

b - A Divina Instituição do Mistério

Mesmo nos tempos do Velho Testamento óleo significava graça, alegria, um prazer para a vida. A Unção dos enfermos com óleo era feita pelos Apóstolos, como nós lemos no Evangelista Marcos 6, 13: “...e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam”.
O testemunho mais claro do Mistério da Unção é encontrado no Apóstolo Tiago 5, 14-15: “Está entre vós alguém doente? Chame os Presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. O Apóstolo fala aqui não de um “dom” especial de cura; ao invés ele prescreve a acção sagrada em uma forma definida que era para entrar nos costumes da Igreja: a realização dela pelos Presbíteros da Igreja, orações, unção; e o Apóstolo junta a isso, como sua consequência, a melhora da doença do corpo, e o perdão dos pecados.
Não se pode entender as palavras do Apóstolo Tiago a respeito de unção com óleo como se referindo a um método usual de cura daqueles tempos, desde que óleo, com todos os seus atributos benéficos, não é um meio de cura contra todas as doenças. Os Apóstolos não introduziram nada de si próprios, mas eles ensinaram somente o que o Senhor Jesus Cristo havia ordenado a eles, e o que o Espírito Santo havia inspirado neles; e eles não se chamaram a si próprios de “instituidores” dos Mistérios de Deus, mas só de “dispensadores” dos Mistérios e “servos de Cristo”. Consequentemente a Unção também, que é ordenada aqui pelo Apóstolo Tiago, tem uma instituição Divina.
Na literatura Cristã antiga pode-se encontrar testemunhos indirectos do Mistério da Unção em Santo Irineu de Lyon e Orígenes. Mais tarde há claros testemunhos dele em São Basílio, o Grande, e São João Crisóstomo, que deixou orações para a cura de enfermos que entraram depois no Rito da Unção; e da mesma forma em São Cirilo de Alexandria. No século quinto, o Papa São Inocêncio I respondeu a uma série de questões a respeito do Mistério da Unção, indicando em suas respostas que:
a - deveria ser realizada “sobre fiéis que estivessem doentes”;
b - deveria ser realizada também por um Bispo, para que ninguém visse nas palavras do Apóstolo “...chame os presbíteros”, nenhuma proibição para um Bispo participar na acção sagrada;
c - essa unção não deve ser realizada “sobre aqueles que estivessem sob penalidade eclesiástica”, porque a unção não deve ser realizada “sobre aqueles que estiverem sob penalidade eclesiástica”, porque é um “mistério”, e se para alguém estão proibidos os outros mistérios, como permitir-se só um?
Esse Mistério é realizado sobre os doentes que estão capazes de recebe-lo conscientemente e participando das orações por si próprios; no entanto que ele pode também ser realizado sobre crianças. O local dessa acção sagrada pode ser ou a Igreja ou o local onde a pessoa esteja acamada. O Mistério da Unção é usualmente precedido por Confissão e usualmente concluído com o Mistério da Comunhão.
O lado visível do Mistério compreende sete unções da pessoa doente com óleo pelos Presbíteros participantes em ordem. Isso é feito na forma de cruz na fronte, nas narinas, bochechas, lábios, peito, dois lados da mão, acompanhados por orações e pela leitura de passagens específicas de Epístolas e Evangelho. Durante a unção em si, sete vezes é pronunciada essa oração: “Pai Santo, médico das almas e dos corpos, que enviaste o Filho Unigénito, Nosso Senhor Jesus Cristo, para curar de todo o mal e libertar da morte a todos os homens, cura também Teu servo (nome)...e continua...”.
O Rito da Unção começa com o canto do tropário e um cánon; a oração final do rito é uma oração de remissão dos pecados. Uma completa assembleia de servos de Deus fica diante dele em nome da pessoa doente, e pelas orações de fé em nome de toda a Igreja, roga a ele, o Misericordiosíssimo, para conceder ao doente a remissão das transgressões e a purificação de sua consciência de toda mácula. É também mantido em mente o facto de que a pessoa que cresceu em fraqueza de corpo e alma, não é sempre capaz de oferecer a confissão apropriada de seus pecados. Essa iluminação da consciência do que está recebendo o Mistério da Unção abre o caminho também para uma cura doadora de graça da sua enfermidade corporal pelas orações de fé. É permitido e algumas vezes praticado um rito especial de Unção, que é realizado na Igreja sobre muitas pessoas ao mesmo tempo, num dia especialmente marcado para isso, para a cura geral de enfermidades da alma e corpo. Mas esse rito não é precisamente idêntico ao Mistério da Unção (Nesse rito, usualmente celebrado na noite da Quarta-Feira Santa, como se fosse uma preparação para a morte e sepultamento do Senhor, todos os presentes vêm para a frente para serem ungidos por cada um dos sete (ou menos) Presbíteros; as unções podem ser feitas todas juntas no fim do ofício, ao invés de depois e cada leitura do Evangelho, com o acompanhamento de um refrão repetido e cantado com uma melodia quaresmal especial: “Ouve-nos, ó Senhor, ouve-nos ó Mestre; ouve-nos Ó Santo”).

c - Unção Entre os Protestantes e Católicos Romanos

Os Protestantes rejeitaram o Mistério da Unção, apesar de Martinho Lutero, pelo menos no começo não ser contra e permiti-la na prática da Igreja. A Igreja Católica Apostólica Romana até agora tem dado a Santa Unção só para pessoas doentes que já estão perto da morte, como uma forma de preparação para a morte, razão pela qual esse Mistério era chamado entre os Católicos Romanos de “Extrema Unção” antes do Concílio Vaticano II, o Sacramento dos moribundos. Tal ensinamento apareceu na Igreja Católica Romana inicialmente no século XII e está em clara contradição com as palavras do Apóstolo Tiago.
Desde os tempos antigos na Igreja, aos moribundos era dado, como preparação para a morte, a Santa Comunhão do Corpo e Sangue de Cristo. (Isso com certeza não significa que o Mistério da Unção não era realizado para moribundos; aqueles morrendo de uma longa doença podem inclusive receber a unção várias vezes no curso de suas doenças. No entanto, a Unção é um Mistério separado, para a cura dos doentes, e não necessariamente parte dos ritos administrados para os moribundos, que usualmente incluem a Confissão, Santa Comunhão, e as Orações para a partida da alma (quando a morte parece próxima). Se a pessoa doente morre, o óleo consagrado que sobrou da Unção, é, de acordo com a antiga tradição, derramado em forma de cruz sobre o seu corpo no caixão no fim do serviço funerário).

 

Arcebispo Primaz Katholikos

S.B. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano – Vieira y Saragoça
(Mar Alexander I da Hispânea)


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Última actualização deste Link em 01 de Outubro de 2011