Igreja Católica Ortodoxa Hispânica


187º - S.S. João XXI +
(1276 a 1277 d.C.)


S.S. João XXI, nascido Pedro Julião Rebolo e mais conhecido como Pedro Hispano, nasceu em Lisboa, Portugal, em 1215. Era filho de Julião Pais Rebolo, médico, cuja profissão segue, e de sua mulher Mor Mendes, e irmão de Gil Julião Rebolo.
Começou os seus estudos na escola episcopal da Catedral de Lisboa, tendo mais tarde estudado na Universidade de Paris (alguns historiadores afirmam que terá sido na Universidade de Montpellier) com mestres notáveis, como Santo Alberto Magno, OP, e tendo por condiscípulos Santo Tomás de Aquino, OP e São Boaventura, grandes nomes do cristianismo. Lá estuda medicina e teologia, dedicando especial atenção a palestras de dialética, lógica e sobretudo a física e metafísica de Aristóteles.
Entre 1246 e 1252 ensinou medicina na Universidade de Siena, onde escreveu algumas obras, de entre as quais se destaca o Tratado Summulæ Logicales que foi o manual de referência sobre lógica aristotélica durante mais de trezentos anos, nas universidades europeias, com 260 edições em toda a Europa, traduzido para grego e hebraico.
Prova da sua vastíssima cultura científica encontra-se na obra De oculo, um tratado de oftalmologia, que conhece ampla difusão nas universidades europeias. Quando Miguel Ângelo adoece gravemente dos olhos, devido ao árduo labor consumido na decoração da Capela Sistina, encontra remédio numa receita de Pedro Julião. É de sua autoria o Thesaurus Pauperum ("tesouro dos pobres"), em que trata de várias doenças e suas curas, com cerca de uma centena de edições e que foi traduzido para 12 línguas.
Antes de 1261, ano em que é eleito decano da Sé de Lisboa, Pedro Julião ingressa no sacerdócio. O Rei Afonso III de Portugal confia-lhe o priorado da Igreja de Santo André, em Mafra, em 1263, e é elevado a Cónego e Deão da Sé de Lisboa, Tesoureiro-mor na Sé do Porto e Dom Prior na Colegiada Real de Santa Maria de Guimarães.
Após a morte de Sua Exª Rev.ma D. Martinho Geraldes, Pedro Julião é nomeado Arcebispo de Braga por S.S. Gregório X, em 1273. Um ano depois, participa no XIV Concílio Ecuménico de Lião, altura em que S.S. Gregório X o eleva a Cardeal-Bispo com o título de Tusculum-Frascati, da Diocese suburbicária de Frascati, o que permite ao pontífice poder contar com os serviços médicos do sábio português. Regressa ao Arcebispado de Braga, até ser nomeado o sucessor, Sua Exª Rev.ma D. Sancho. De volta à corte pontifícia, S.S. Gregório X nomeia-o seu médico principal (arquiathros) em 1275.
A eleição de Pedro Julião, num  conclave realizado em Viterbo, após a morte de S.S. Adriano V, em 18 de Agosto de 1276, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas e com alguns cardeais a sofrer violências físicas. É eleito Bispo de Roma em 13 de Setembro e coroado em 20 de Setembro de 1276, quando adopta o nome de João XXI. Assim, obteve a promessa do Rei Dom Afonso II de Portugal de que todas as Igrejas daquele Reino, juntamente com os seus bens, seriam respeitados. Escreveu um livro de lógica que serviu de padrão aos estudantes dessa disciplina, durante três séculos, e o livro “Tesouro dos Pobres”.
S.S. João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecuménico de Lyon. Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os cardeais presentes no conclave que o elegera.
Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por S.S. Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos.
Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França, Germânia e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos de Anjou, sem sucesso.
Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres. Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa Divina Comédia, coloca a alma de S.S. João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de "aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados escritos pelo erudito pontífice português. O Rei Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de D. Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no "Paraíso", canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua época por 'egrégio varão de letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e 'completo cientista físico e naturalista'.
Mais dado ao estudo que às tarefas pontifícias, S.S. João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro S.S. Nicolau III, os assuntos correntes da Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de Viterbo, onde morre em 20 de Maio de 1277, vitimado pelo desmoronamento das paredes do seu aposento, estando o palácio apostólico em obras. É sepultado junto do altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade.
No séc. XVI, durante os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais são trasladados para um modesto e ignorado túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo. Através do contributo da Câmara Municipal de Lisboa, por João Soares então seu presidente, o mausoléu é colocado, a título definitivo, do lado do Evangelho na Catedral de Viterbo, a 28 de Março de 2000.


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