Igreja Católica Ortodoxa Hispânica

Sua Excelência Reverendíssima
Dom António Ferreira Gomes +

(1906 - 1989)

Sua Exª Rev.ma D. António Ferreira Gomes nasceu na freguesia de São Martinho de Milhundos, Penafiel, em 10 de Maio de 1906, sendo o quarto de nove filhos de Manuel Ferreira e Albina de Jesus, lavradores relativamente abastados do lugar de Quintela.
Teve educação firme, solidificada na disciplina e pautada pela honra. Entrou para o seminário a 16 de Outubro de 1916. O facto de ter um tio padre e cónego motivava-o para abraçar a vida de serviço à Igreja. Acabaria os estudos filosófico-teológicos em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana, entre 1925 e 1928.
Acabaria os estudos Filosóficos - Teológicos, em Roma. Aos 22 anos, recebe a Sagrada Ordenação Presbiteral, em 22 de Setembro de 1928, das mãos de Sua Exª Rerv.ma D. António Augusto de Castro Meireles, Bispo Coadjutor do Porto, na Torre da Marca.
É logo depois nomeado Prefeito e director de disciplina do Seminário de Vilar. Por impedimento do seu tio, Cónego Ferreira Gomes, em 1936, iria ser Vice-Reitor com funções de Reitor do Seminário de Vilar. Foi, então, o exigente professor de Filosofia, firmado no seu imperturbável pensamento, seguido com temor e espanto pelos alunos.
Em Junho de 1936, é nomeado Cónego da Sé do Porto, juntamente com o Cón. Manuel Valente e o Cón. Sebastião Soares de Resende. A ele se deve a colocação de duas máximas nas paredes do Seminário de Vilar: “De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens” e “Fostes resgatados por grande preço, não queirais tornar-vos servos dos homens” (1Cor 7, 23).
A vinda para o Porto de Sua Exª Rev.ma D. Agostinho de Jesus e Sousa, em Agosto de 1942, depois dos problemas atribulados surgidos na diocese, foi ocasião para relações de colaboração cordial entre o director de Vilar e do novo bispo portuense.
Em 15 de Janeiro de 1948, Ano da Proclamação dos Direitos do Homem, dos quais foi insistente defensor, o Bispo de Roma S.S. Pio XII nomeia-o Bispo Coadjutor de Portalegre, com direito de sucessão. Recebe a Sagrada Ordenação Episcopal como Bispo da Igreja Católica Apostólica Romana na Sé do Porto a 02 de Maio de 1948, dia de Santo Atanásio de Alexandria, das mãos de Sua Exª Rev.ma D. Agostinho de Jesus e Sousa, sendo Co-Consagrantes: Sua Exª Rev.ma D. António Valente da Fonseca, Bispo de Vila Real, e Sua Exª Rev.ma D. Manuel Maria Ferreira da Silva, Bispo Titular de Gurza.

Momentos da Ordenação

Coincidência imprevisível de exilados! Tomou posse em 25 de Maio. Pela morte de Sua Exª Rev.ma D. Frei Domingos Frutuoso, OP, em 06 de Junho de 1949, é nomeado Bispo Diocesano de Portalegre e aí prossegue o contacto com a realidade do Alentejo que estuda. De facto a experiência alentejana iria durar pouco.
Em 13 de Julho de 1952 é nomeado Bispo do Porto. Toma posse por procuração em 14 de Setembro e entra solenemente no dia 12 de Outubro, uma vez que continuou como Administrador Apostólico de Portalegre até à tomada de posse do sucessor, Sua Exª Rev.ma D. Agostinho Lopes de Moura, em 02 de Maio de 1953. De 1952 a 1958, o Bispo do Porto notabilizou-se pela atenção à miséria social do povo português, pela crítica do corporativismo do Estado Novo e pela exigência de livre expressão do pensamento e da acção política (célebres discursos aos jornalistas no dia de S. Francisco de Sales).
Surgem depois as eleições para a Presidência da República, em 1958 e depois da campanha eleitoral agitada pelo General Humberto Delgado, D. António vê-se impedido de ir votar por ter assumido o compromisso de proferir uma conferência em Barcelona. Salazar ficou perturbado por temer uma exploração oposicionista do caso. Depois de regressar desta viagem, D. António escreve o Pró-Memória, tópicos para preparar uma conversa a sós com o Drº António de Oliveira Salazar. É esta a célebre carta a Salazar (embora erradamente conhecida como tal) tomada pública não se sabe por quem, a 13 de Junho de 1958. Segue-se uma 02ª carta pedida pelo Cardeal D. Costa Nunes, Patriarca das Índias. O imbróglio de cartas e contra cartas criou uma situação política muito confusa, que levou o Patriarca das índias a aconselhar D. António a retirar-se uns tempos para férias, e depois é proibido de entrar no país. Vê-se forçado a um exílio de dez anos, iniciado em Vigo e depois continuado em Santiago de Compostela e em Valência, onde colabora na acção Pastoral, Lourdes, Ciudad Rodrigo e Salamanca. Nestes locais, recebe frequentes visitas de amigos e apoio da diocese do Porto, que soube ser fiel e digna no exílio do seu bispo.
Durante o Concílio está em Roma, é membro da Comissão dos Seminários e Estudos, e participa na aula conciliar com intervenções de interesse, relativas ao esquema dos bispos, do ecumenismo, da Igreja no mundo e da liberdade religiosa (1963-1965), talvez esta a mais pertinente. Juntamente com o portuense Sua Exª Rev.ma D. Sebastião Soares de Resende, tem as intervenções mais relevantes da presença portuguesa no Concílio Vaticano II.
No ano de 1969, devido a diligências da ala liberal, em colaboração com padres diocesanos atuantes junto da Nunciatura, Marcello Caetano autoriza a sua entrada em Portugal. Agora é o esforço de retomar e de redescobrir a diocese e de a reestruturar no estilo do Concílio. A sua preocupação dominante de pastor foi a doutrinação e a criação de organismo de correspondência eclesial.
Não deixa de ser uma figura incómoda e polémica. São exemplos: a presença no julgamento do Padre Mário Pais de Oliveira nos dias 07 e 08 de Janeiro de 1971, a homilia da paz de 1972 quando fala da teologia da guerra e inclui referências às «virtudes militares» dos capelães, assim como o interdito à paróquia de Mozelos no dia 01 de Janeiro de 1974. A mesma linha ética se manteve após o 25 de Abril do mesmo ano. É um período de escrita singularmente fecundo. O diálogo com a cultura moderna será o seu tema central desde 1976 até ao fim. Isto após os esclarecidos avisos aos portugueses, com apelos à tolerância e a denúncia dos novos perigos pós-revolucionários. Dentro da Igreja, a crítica aos cristãos pelo socialismo demonstrou o homem da fidelidade à memória doutrinal da Igreja.
A partir de 1978 notam-se algumas reacções do clero com posições mais irrequietas e radicais. Nos anos oitenta diminuem os momentos de intervenção. Em princípios de 1981, antes de completar 75 anos apresentou e insistiu no pedido de resignação. Foi atendido a 18 de Fevereiro de 1982. Começa o reconhecimento público e oficial: está entre os primeiros galardoados com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a 07 de Agosto de 1980; em 30 de Abril de 1982 a Câmara Municipal do Porto, em homenagem pública, proclamou-o Cidadão do Porto com imposição da Medalha de Honra da Cidade. Escolhe, mais uma vez, o dia 02 de Maio, agora de 1982, passados 34 anos da sua Ordenação Sacerdotal, para se despedir do seu rebanho do Porto e ir viver para a Quinta de Mão Poderosa, casa da diocese em Ermesinde. Foi aí que escreveu as célebres cartas ao Bispo de Roma. Deixou um testamento, redigido em 21 de Agosto de 1977. Testemunha o desprendimento nobre e a pobreza essencial que nortearam a sua vida e revela a criação da Fundação Spes, com fins benéficos, educativos e culturais. Aí viveu discretamente e morreu serena e santamente, aos 82 anos de idade, em 13 de Abril de 1989, aceitando livremente a morte com plena lucidez a 13 de Abril de 1989.

O cortejo fúnebre

O seu túmulo

Foi canonizado e elevado às honras dos Altares, pelo Decreto Primacial A033/GP, de 15 de Junho de 2005.

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Sua Exª Rev.ma D. António com o Rev.do Pe. Américo

Sua Exª Rev.ma D. António na companhia de Sua Emª Rev.ma D. Manuel Gonçalves, Card. Cerejeira


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